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Liberdade para amar (Lc 6,36): confira o artigo do padre Ricardo Carvalho, Missionário Redentorista do Santuário do Bom Jesus da Lapa

A ética cristã é, portanto, profética, denunciando tudo o que desumaniza e anunciando um mundo onde "a medida" é o amor incondicional. Que o Espírito da Vida nos fortaleça para que, ao continuar o Projeto do Senhor Bom Jesus, sejamos sinais vivos da misericórdia do Pai Eterno, que acolhe, perdoa e faz novas todas as coisas.

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liberdade para amar

Por Pe. Ricardo Geraldo de Carvalho, CSsR

“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36)

Face ao “mundo ferido” somos convidados a um caminho radical de amor e liberdade. Nas palavras de Jesus (Lc 6, 36-38), encontramos um chamado à misericórdia, à generosidade e à recusa do julgamento. Para tanto, devemos nos conscientizar que a moralidade não é um conjunto de regras, mas uma resposta livre e amorosa ao Deus que nos amou por primeiro. E a misericórdia não é uma obrigação, mas a essência do encontro com o Cristo libertador; a misericórdia é o coração da identidade cristã.

Quando Jesus diz “sede misericordiosos”, não está impondo uma lei, mas convidando-nos a refletir o rosto do Pai, que acolhe todos, especialmente os vulneráveis e marginalizados. Assim, a moral cristã nasce do relacionamento com Deus, não do medo do castigo. Ser misericordioso é reconhecer que todos somos “obra das mãos de Deus” e, por conseguintes, dignos de compaixão, mesmo em nossas fragilidades. Isso exige conversão interior: deixar de lado a rigidez farisaica para abraçar a ternura que cura.

O julgamento é uma forma de violência

A proibição de julgar está ligada à ética da libertação. Julgar é aprisionar o outro e a si mesmo em estereótipos, negando a complexidade da vida. O julgamento é uma forma de violência que impede o diálogo e a reconciliação. Assumamos, pois, a “ética do encontro”, onde olhamos para o outro com os olhos de Cristo, que vê além dos erros e enxerga a centelha da graça. Isso não significa ignorar injustiças, mas combatê-las com amor, nunca com desprezo.

Jesus fala de perdão e doação como gestos que rompem a lógica do merecimento. Com liberdade interior ativa vivenciemos o chamado à justiça social. Haja vista que dar “boa medida, calcada, sacudida, transbordante” não é apenas sobre caridade individual, mas sobre construir estruturas sociais que distribuam os bens com equidade. Logo, a generosidade cristã questiona sistemas econômicos opressores e estimula os seres humanos à partilha concreta. O perdão, por sua vez, é um ato revolucionário: liberta o ofensor e o ofendido, criando espaço à reconciliação.

Urge que as pessoas vejam no “Sermão da Planície” uma crítica à reciprocidade calculista. À “medida” que recebemos de Deus não é matemática, mas transbordante de graça. Se usarmos uma medida mesquinha baseada no egoísmo e na indiferença colheremos divisão e ressentimento. Se usarmos a medida do Evangelho alicerçada na solidariedade e no perdão participaremos do horizonte de vida anunciado pelo Redentor. Esse testemunho integral implica responsabilidade comunitária, porque as nossas ações individuais afetam todo o espaço vital.

A ética cristã é, portanto, profética, denunciando tudo o que desumaniza e anunciando um mundo onde “a medida” é o amor incondicional. Que o Espírito da Vida nos fortaleça para que, ao continuar o Projeto do Senhor Bom Jesus, sejamos sinais vivos da misericórdia do Pai Eterno, que acolhe, perdoa e faz novas todas as coisas.

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