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Gotas de Amorosidade: Carregar nossa cruz com amorosidade

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gotas de amorosidade

(Lc 9, 18-24)  Jesus coloca a pergunta sobre sua identidade em um momento de oração solitária. O acontecimento é fundamental porque diz respeito a uma das perguntas centrais do ser humano: a pergunta sobre a identidade. Quem sou eu? Pergunta que forma um conjunto único com as demais: De onde venho? Para onde vou? O que há depois da morte? Apenas a partir da vivência do silêncio e da interioridade surgem as perguntas essenciais, e só a partir daí podemos tentar respostas coerentes e humanizadoras. Por isso nossa sociedade – muito superficial em várias de suas expressões – não busca fazer as perguntas primordiais, optando por questões banais. A resposta à pergunta de Jesus deveria partir da vida e a serviço da vida, da confiança e a serviço do amor, do amor e a serviço da felicidade.

 

Pois bem, hoje refletimos sobre a pergunta do Senhor: “Quem dizeis vós que eu sou?” (Lc 9,20). É uma questão dirigida a Pedro, portanto à Igreja, e assim a cada um de nós. Em cada transtorno existencial, nas experiências profundas, nas mudanças decisivas, o Senhor nos interpela novamente: “Quem sou eu verdadeiramente para você?”

 

E esta não é fundamentalmente uma pergunta sobre quem Jesus é teoricamente, ou seja, teologicamente. É sobretudo uma indagação sobre nossa relação concreta com Ele: “Você quer comprometer-se comigo, aqui e agora?” Pedro julga dar a resposta certa: “Para mim, Senhor, Tu és o Cristo, o Messias, o Salvador!”

 

Não obstante Jesus percebe a ambiguidade desse título. Que tipo de “Salvador” Pedro imagina? Que “método de salvação” ele espera? Para muitos – inclusive Pedro, naquele momento –, “Cristo” significava: um libertador terreno; um líder político; o expulsor dos ocupantes romanos do território da Palestina.

 

E o método imaginado era: a conquista do poder político. Todavia, Jesus não é um Libertador que satisfaz nossos desejos terrenos, por mais legítimos que sejam. Ele não desce do céu para conquistar algo por nós. O Deus cristão jamais substitui nossa responsabilidade humana.

 

Jesus é “Salvador” de outro modo: com pleno respeito à nossa liberdade, Ele é a força amorosa, localizada no cerne divino da alma, que inspira cada coração, renovando o mundo a partir de dentro. Ele nos liberta não por intervenções espetaculares e externas, mas pela força silenciosa do seu amor – que necessita da nossa cooperação. Por isso, seu método também surpreende, por não ser pautado na violência, mas do amor desarmado: o Nazareno vivencia uma comunicação não violenta.

 

Se Deus se mostrasse apenas em poder e majestade, isto é, de forma esmagadora, Ele cercearia nossa resposta livre. A atitude de Jesus é sinal maior de um Deus que é Amor sem coerção, convidando-nos a uma resposta livre. Comprometer-nos com Jesus significa, pois, segui-lo em seu método de amorosidade, não no direito do mais forte.

 

Jesus chama esta postura de “tomar a própria cruz”, de modo que não significa buscar o sofrimento. O sofrimento já existe: cada dia traz seu próprio fardo. A vida já inclui adversidades, limitações, impotência e dor. Cada inter-humano tem sua cruz.

 

Jesus não pede que procuremos a dor – isso seria indigno e religiosamente escandaloso. Entretanto o verdadeiro amor exige que deixemos nossos interesses em segundo plano; esqueçamos o próprio benefício; coloquemos os outros à frente.

 

O Senhor nos pede que “carreguemos” a cruz das nossas limitações diárias. Isto significa: não fugir; não a arrastar com desânimo; não se curvar desesperado sob ela. Mas erguer as dificuldades, colocando sob elas não apenas o ombro, mas sobretudo o coração, sustentando-as com a força da entrega amorosa.

 

Carregar nossa impotência como uma cruz significa – como Jesus – manter-nos: confiantes apesar da vulnerabilidade; entregues; capazes de perdoar; o mais amorosos possível em todas as circunstâncias.

 

A pergunta essencial de hoje é: Queremos comprometer-nos com Jesus também em seu método de amor desarmado? E se sentirmos que essa cruz nos pesa demais, lembremos: nós, que seguimos o Senhor, caminhamos atrás d’Ele – mas é Ele quem vai à frente, carregando a parte mais pesada da nossa cruz com o amor do seu coração. É a este Redentor que nos atrevemos a confiar-nos, ainda hoje! Portanto, vivamos nossa humanidade a partir da sua raiz redentora: Amor e Vida.

 

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